A redução da escala de trabalho de 6×1 e da jornada para 36 horas semanais é uma proposta que desperta um forte debate, especialmente considerando o avanço da inteligência artificial e automação nas empresas. No entanto, a simplificação da questão, atribuindo a culpa pela possível redução de empregos apenas à menor carga horária, ignora o complexo contexto de custos, avanços tecnológicos e tendências de mercado.
Hoje, o uso de tecnologias como IA, automação e até humanoides permite que as empresas reduzam consideravelmente sua força de trabalho humana em várias áreas, especialmente em tarefas repetitivas como telemarketing. É verdade que um sistema de IA bem configurado pode substituir dezenas de atendentes a um custo muito menor do que a manutenção de uma equipe de funcionários. Isso apresenta uma tentação para empresas pressionadas pela alta carga tributária e despesas operacionais, mas é importante refletir sobre o impacto social e econômico disso.
Em um cenário onde a automação, IA e humanoides já estão substituindo funções humanas em várias indústrias, o custo de manutenção de uma equipe de trabalho se torna uma variável cada vez mais difícil de sustentar. Sistemas automatizados podem realizar tarefas repetitivas, como o atendimento ao cliente, processamento de dados e até mesmo funções administrativas, a um custo muito menor.
Um assistente virtual ou um chatbot pode, por exemplo, realizar o trabalho de dezenas de atendentes humanos, com custos operacionais reduzidos, sem a necessidade de férias, benefícios ou folgas. Além disso, o retorno sobre o investimento em IA e robótica pode ser muito mais rápido, considerando o aumento da produtividade e a redução de erros.
Os Custos Altos da Manutenção de Funcionários
Para uma empresa brasileira, as despesas com a manutenção de um funcionário são pesadas e, muitas vezes, desproporcionais ao valor agregado que ele entrega, especialmente em funções repetitivas. O custo direto com salários e benefícios como vale-transporte, vale-alimentação e plano de saúde já são altos. Mas o verdadeiro peso está nos encargos trabalhistas, como INSS, FGTS, férias, 13º salário e outros direitos garantidos pela Consolidação das Leis do Trabalho (CLT), que representam uma parte significativa do custo total de um funcionário.
Além disso, a empresa precisa arcar com uma série de despesas operacionais adicionais. Isso inclui a manutenção de infraestrutura — como computadores, sistemas e energia elétrica — para garantir que o trabalhador possa executar suas funções. Se o trabalhador precisar de treinamento ou atualização constante, como em setores que envolvem tecnologia, esse também é um custo a ser considerado.
A soma de todos esses custos resulta em uma conta difícil de suportar, especialmente para as pequenas e médias empresas, que já enfrentam uma alta carga tributária no Brasil. A realidade fiscal brasileira, com impostos sobre a folha de pagamento e as despesas operacionais, torna a manutenção de uma equipe de trabalho cada vez mais cara.
A Tentação da Automação: IA, Robôs e Humanoides
Com o aumento da automação, a realidade empresarial está mudando rapidamente. A utilização de IA, assistentes virtuais, chatbots e até mesmo humanoides capazes de realizar tarefas que antes eram executadas por dezenas de funcionários é uma tendência crescente. Em setores como o telemarketing, por exemplo, onde o custo de manter um operador pode ultrapassar R$ 2.000 mensais, um sistema de IA ou um chatbot pode realizar a mesma tarefa com um custo muito mais baixo e sem a necessidade de descanso, férias ou benefícios.
O investimento em IA e automação também pode ser vantajoso para as empresas ao permitir a redução das despesas fixas, como salários, encargos sociais e custos operacionais, além de minimizar os erros humanos e aumentar a produtividade. O custo de implementação de sistemas automatizados e robóticos tem diminuído ao longo dos anos, tornando-se uma alternativa mais viável para muitas empresas. A automação, portanto, se apresenta como uma solução para reduzir os custos com funcionários humanos e garantir a competitividade em um mercado globalizado.
O Impacto da Redução da Jornada de Trabalho
A proposta de reduzir a jornada de trabalho para 36 horas semanais, embora socialmente relevante, pode ser vista com cautela pela classe empresarial. Com a alta carga tributária sobre o trabalho, a redução da jornada implicaria em um aumento nos custos com os funcionários. Isso torna a contratação de seres humanos ainda mais inviável, especialmente quando se compara os custos de manutenção de um trabalhador com os custos de um sistema automatizado.
Em um cenário em que as empresas já enfrentam uma pressão constante para reduzir seus custos operacionais, a tendência será investir ainda mais em tecnologia, IA e robótica, acelerando a substituição do trabalho humano por máquinas. Se os custos de manutenção de um funcionário se tornam mais altos com a redução da jornada, a tentação para muitas empresas será substituir a mão de obra humana por tecnologias que realizam o mesmo trabalho, mas com um custo infinitamente mais baixo.
O Peso da Tributação e as Taxas de Vendas
Outro ponto crítico no contexto empresarial brasileiro é a carga tributária, que é uma das mais altas do mundo. Além dos encargos trabalhistas, as empresas têm que lidar com uma série de tributos que impactam diretamente seus custos operacionais. Impostos como o ICMS, PIS, COFINS, e o ISS são apenas alguns exemplos de como o sistema tributário brasileiro onera as empresas, que acabam repassando esses custos para os preços finais.
Além disso, quando se fala em vendas no Brasil, as taxas de parcelamento no cartão de crédito são outro fator que contribui para o aumento dos custos. Muitas vezes, essas taxas podem ultrapassar 22% para parcelamentos em até 10 vezes, o que eleva ainda mais os custos de operação de uma empresa. Para um empresário, a soma dessas despesas – salários, encargos, tributos e taxas de vendas – torna o custo do trabalho humano cada vez mais insustentável, especialmente quando comparado ao investimento em automação.
O Risco de Maior Desemprego
Embora a redução da jornada de trabalho seja uma medida voltada para a melhoria das condições de trabalho, ela pode, paradoxalmente, acelerar a transição para um mercado de trabalho automatizado, onde as máquinas desempenham funções antes realizadas por humanos. Com a crescente utilização de IA e robótica em diversos setores, muitas empresas veem a possibilidade de substituir trabalhadores por soluções tecnológicas mais baratas e eficientes.
Em um cenário de alta tributação e custos operacionais elevados, o empresário brasileiro vê na automação não apenas uma forma de reduzir despesas, mas uma necessidade para sobreviver no mercado. Isso implica em menos empregos para os trabalhadores humanos, que se tornam cada vez mais substituíveis por máquinas.
Conclusão: A Realidade de um Mercado em Transformação
A redução da jornada de trabalho, embora bem-intencionada, precisa ser analisada à luz da realidade econômica do Brasil. A alta carga tributária, os custos operacionais e a competição com tecnologias de automação fazem com que a ideia de manter uma grande força de trabalho humana se torne cada vez mais inviável para muitas empresas. Em vez de fomentar a criação de empregos, a proposta pode acelerar a substituição do trabalhador humano por máquinas.
Para o futuro, a solução não está apenas em reduzir a carga horária dos trabalhadores, mas em criar um ambiente de adaptação e requalificação para que a força de trabalho possa se integrar às novas tecnologias, garantindo que a transição para a automação não seja sinônimo de maior exclusão social, mas de novas oportunidades e inovação.