Na exposição Sertões, na G Gallery, Geovana Cléa apresenta um retrato visceral e poderoso da paisagem árida do sertão brasileiro. A artista, natural de Inhapi, Alagoas, utiliza a terra do sertão, inclusive terras sagradas dos povos indígenas, para criar uma obra que conecta o passado ancestral à arte contemporânea. Seu trabalho transcende fronteiras, unindo a dureza do chão rachado ao cosmopolitismo de sua carreira internacional. Cléa não apenas faz arte; ela dá voz à terra que sofre, grita e resiste.
A mostra traz à tona uma crítica silenciosa, mas impactante, sobre o esquecimento e o descaso com o sertão e suas gentes. Geovana Cléa, reconhecida por sua trajetória na Itália e premiada em eventos internacionais como a Bienal de Veneza e o Salão de Belas Artes de Paris, coloca suas raízes no centro da criação. Ao recolher e trabalhar com a terra do sertão e dos indígenas Koiupanka, ela transcende a função estética, transformando a arte em um grito de resistência.
A textura, as cores e a matéria-prima que Cléa utiliza remetem à aridez, à sobrevivência e à resiliência do sertanejo. Suas obras vão além do expressionismo abstrato e naturalista com o qual se identifica; elas evocam uma ancestralidade sufocada pelas fissuras da seca. Cada rachadura de barro, cada mistura de minerais e cristais Swarovski, usados em algumas de suas peças, forma uma interseção entre o cósmico e o terrestre, criando uma atmosfera quase espiritual.
O que torna sua obra ainda mais potente é o fato de que Geovana Cléa mantém uma conexão profunda com suas raízes. O barro, que recolhe pessoalmente do sertão alagoano e do rio Trebbia, na Itália, não é apenas uma escolha estética, mas simbólica. A terra, seja ela sagrada ou secular, é a narrativa principal. Sua nova coleção Sertões não fala apenas de uma geografia física, mas de um sertão de alma e de memória.
Geovana Cléa, madrinha dos Jogos Indígenas e figura destacada no cenário internacional, nos lembra que a arte, quando vinculada ao seu local de origem, é mais do que beleza; é identidade, é resistência. Ao trazer o chão rachado do sertão para o centro de sua obra, ela ressignifica a aridez como uma forma de luta, como um lembrete de que, mesmo no abandono, existe vida e força. Sua arte não nos permite esquecer o sertão — ela o torna presente, pulsante e vibrante, mesmo nos salões mais sofisticados da Europa.