Com o resultado do primeiro turno das eleições em São Paulo praticamente consolidado, a disputa entre Ricardo Nunes (MDB) e Guilherme Boulos (PSOL) promete ser acirrada e cheia de ataques mútuos. Nunes, atual prefeito que assumiu o cargo após a morte de Bruno Covas, conseguiu 29,49% dos votos válidos, enquanto Boulos, deputado federal e figura polêmica da esquerda, ficou logo atrás, com 29,06%. No entanto, ambos os candidatos carregam pesadas bagagens que devem dominar o debate neste segundo turno.
Ricardo Nunes: Uma gestão manchada por escândalos
Ricardo Nunes tenta se manter no comando da cidade mais rica do país, mas sua gestão está marcada por uma série de escândalos e suspeitas de irregularidades que questionam sua capacidade de liderança. Embora tenha sido alçado à prefeitura de São Paulo por força das circunstâncias — a morte de Bruno Covas —, Nunes não conseguiu se desvincular de uma imagem desgastada e associada a práticas duvidosas. Denúncias de favorecimento em contratos da prefeitura, envolvimento do PCC no transporte público e superfaturamento em licitações mancharam seu mandato.
Além dessas polêmicas, Nunes carrega o peso de uma acusação de violência doméstica contra sua esposa, Regina Carnovale, em 2011. Embora tenha tentado negar a veracidade do boletim de ocorrência, a Secretaria de Segurança Pública confirmou que o documento é legítimo. Essas questões lançam uma sombra sobre o atual prefeito, que precisará de muito mais do que o apoio de Tarcísio de Freitas e Jair Bolsonaro para convencer o eleitorado paulistano de que é a melhor opção para o futuro da cidade.
Guilherme Boulos: Radicalismo travestido de esperança?
Por outro lado, Guilherme Boulos surge como o “candidato da mudança” e da “esperança progressista”. Contudo, sua trajetória política, marcada pelo radicalismo e pela militância no MTST (Movimento dos Trabalhadores Sem Teto), levanta sérias dúvidas sobre a sua capacidade de governar São Paulo. Boulos, que até agora tem se beneficiado de uma retórica populista e promessas de reformas amplas, precisa lidar com o fato de que suas propostas, muitas vezes, são vagas e pouco viáveis na prática.
A aliança com o PT, representada pela ex-prefeita Marta Suplicy como sua vice e o forte apoio de Lula, revela o verdadeiro plano de Boulos: transformar São Paulo em um trampolim político para a presidência em 2026. Em vez de focar nas reais necessidades da cidade, Boulos parece estar mais preocupado em construir sua carreira política, o que levanta questionamentos sobre seu compromisso com os paulistanos. Além disso, sua insistência em defender pautas como a ocupação de imóveis e a distribuição de moradia gera receio entre os setores produtivos da cidade, que temem uma eventual gestão conflituosa e avessa ao diálogo com o mercado e o empresariado.
Apesar de sua habilidade em mobilizar uma base eleitoral fiel, a gestão de Boulos pode representar uma guinada radical que São Paulo não está preparada para suportar. A cidade, que precisa de soluções práticas para problemas urgentes como transporte, segurança e moradia, corre o risco de se tornar palco de experimentos políticos ideológicos que, na prática, podem agravar ainda mais seus desafios.
Disputa de Titãs ou de Projetos Duvidosos?
Neste segundo turno, os eleitores paulistanos se encontram em uma encruzilhada: escolher entre um candidato envolto em escândalos e outro que carrega consigo um projeto político que parece priorizar a construção de uma narrativa nacional para 2026, em vez de focar nos problemas imediatos da cidade. A disputa entre Nunes e Boulos está longe de ser uma simples escolha entre direita e esquerda; é, na verdade, uma decisão sobre o futuro de São Paulo em meio a dois projetos com sérias limitações e promessas questionáveis.
Ambos candidatos precisarão responder às demandas de uma cidade complexa e diversa como São Paulo, mas o embate tende a se concentrar mais nas fragilidades de cada um do que em soluções concretas. O eleitor paulistano, diante de uma campanha polarizada e marcada por ataques, terá a difícil tarefa de escolher o “menos pior” para os próximos quatro anos.